Por Almir Zarfeg - Bemtivi é eleito prefeito pela terceira vez e, de quebra, se aproxima dos maiorais da política itanheense
Milton Ferreira Guimarães, mais conhecido como Bemtivi, sagrou-se prefeito de Itanhém pela terceira vez no 1º turno das eleições municipais de 2024, realizadas no último dia 6 de outubro, vencendo Mildson Dias Medeiros, Magno Pinheiro dos Santos e demais concorrentes com 54,59% dos votos válidos. A cidade amarelou, o candidato do PSB ficou bonito na foto e seus eleitores dispararam o 40 da vitória.
Ao derrotar os concorrentes em todas as seções eleitorais do município, seja na sede, distritos, povoados ou zona rural, Bemtivi se aproximou cada vez mais dos dois nomes mais importantes da política local – Sady Teixeira Lisboa e Gedeon Botelho Ferreira.
Para quem não se lembra ou sofre de amnésia, Sady liderou o movimento de emancipação de Itanhém, quando o então distrito fazia parte da área territorial de Alcobaça. Antes disso, entre os anos de 1952 e 1955, se elegeu vereador para representar os interesses dos itanheenses no Legislativo alcobacense. Com o processo emancipatório consolidado, com o apoio de nomes do cenário regional e estadual como Deolisano Rodrigues de Souza e Oscar Cardoso da Silva, Sady foi escolhido primeiro prefeito do novo município. Porém, mais do que primeiro prefeito, ele se transformou no líder que comandou a municipalidade nos próximos 20 anos, ditando os rumos do cenário político-administrativo.
Sady não só elegeu seu sucessor, João Farias Pires, no pleito de 1962, como ainda ele próprio foi escolhido vereador e, por consequência, presidente da Câmara Municipal. Mas causou sensação a votação expressiva obtida por José Henrique, fiscal-geral do município, que superou o próprio Sady. (Aliás, numa época em que não existia a figura do vice-prefeito e, por isso, o presidente do Legislativo substituía o chefe do Executivo em ocasiões excepcionais).
Em resumo, Sady se candidatou a prefeito outra vez nas eleições de 1966, derrotou Rubens David, que contava com o aval de Deolisano (Seu Dosinho) e Oscar Cardoso, os quais desde a escolha de Jota Pires estavam insatisfeitos com Sady que, em 1958, havia se beneficiado do apoio dos dois antigos aliados. Sady ainda bancou a eleição de Edson Gomes Nascimento em 1970, a de João Lopes de Ângelo em 1972 e, na impossibilidade de se candidatar em 1976, porque estava doente, apresentou seu filho Eloino Moreira como candidato para enfrentar o nome da oposição, o inexperiente Edinho Afonso, numa das mais acirradas disputas eleitorais em Itanhém. Oposição derrotou situação por uma diferença de apenas 204 votos, por incrível que pareça. (Convém destacar que essas eleições marcaram o início da influência política de Gedeon e da estreia de Oséas Moreira, irmão de Eloino e eleito vereador, na política propriamente dita.)
Com a vitória de Edinho e o falecimento de Sady em 1978, Gedeon Botelho foi ganhando cada vez mais relevância política. (Lembrando que Gedeon havia feito parte do grupo liderado por Sady, compondo, inclusive, a legislatura de 1967/1970 ao lado de vereadores como Rubens David, Joaquim Basílio dos Reis e Luiz Camata.) Ele não apenas conseguiu a proeza de comandar a prefeitura em três oportunidades (1982/1988 – 1993/1996 – 2005/2008) como, ainda por cima, pautou a sucessão posterior, elegendo Neco Batista, Oséas Moreira e o próprio Bemtivi. Não resta dúvida de que é o grande nome da história política local. Depois de Sady.
Que fique claro, portanto, que nenhuma liderança se dá de maneira isolada e imposta, mas compartilhada e consentida, ainda que tacitamente. O Sady – que liderou os primeiros vinte anos com pulso firme e carisma – teve o apoio das famílias mais poderosas da localidade e dos nomes mais representativos, como Manoel Batista dos Santos, José Resende Sobrinho, José Henrique dos Reis, Dolírio Rodrigues dos Santos, Cristóvão Pereira de Souza, Gedeon Botelho Ferreira, dentre outros. Até que, em virtude do desgaste e da alternância no poder, uma liderança fosse substituída por outra.
Gedeon (1930/2015) viveu bastante para apoiar e eleger seu sucessor em 2008 e vê-lo reeleito em 2012, inaugurando a 1ª reeleição de que se tem notícia na história de Itanhém, num pool de forças que incluiu o ex-prefeito Oséas Moreira e o ex-vice-prefeito José Carlos Teixeira. Porque uma liderança não se realiza sozinha, mas compartilhada pelos aliados (e pelos adversários do passado convertidos em aliados do presente).
O sucessor em questão é Milton Ferreira Guimarães (PSB), que acaba de ser reconduzido à prefeitura tendo como vice o jovem advogado Ronny Peterson Nogueira Bacelar (DC). Eleitos com a promessa de resgatar a esperança e a decência, atropeladas que foram pelo desgoverno do atual prefeito.
Em política, é aconselhável não prever o futuro nem comemorar promessas feitas no calor do embate eleitoral, especialmente quando estão em jogo sentimento (esperança) e moralidade (decência). Mas Bemtivi não precisa fazer milagres nem promover revoluções na administração pública municipal. Precisa cumprir o básico e, quem sabe, fazer a diferença com uma sacada administrativa.
Como gestor experimentado, inclusive com duas passagens pela Câmara Municipal, ele não terá dificuldades em manter a máquina administrativa funcionando a contento, com as secretarias comandadas por gente preparada e comprometida, que privilegie o coletivo em vez do individual. O funcionalismo recebendo em dia e, por sua vez, devolvendo um serviço eficiente aos munícipes, independente de orientação partidária ou segmento social. Porque saúde, educação e assistência social é um direito de todos e dever do poder público.
Por outro lado, as ações efetivas precisam envolver também a cultura, o esporte e o lazer. E Bemtivi já confirmou o retorno da Festa de Integração dos Itanheenses e Amigos (FITA), a Janela Cultural, a Caminhada dos Idosos – eventos que, durante suas administrações (2009/2012 e 2013/2016), foram bastante valorizados e movimentaram a cidade.
Bemtivi se comprometeu também com as práticas esportivas, passando pelo futebol – que precisa de um Campeonato Municipal forte; e demais modalidades esportivas, como o vôlei – que necessitam de incentivo para prosseguir. Porque esporte é vida e cultura, inclusive a musical e a literária, faz parte do DNA água-pretense.
A Casa da Cultura – inaugurada por Bemtivi e condenada à ociosidade pelas últimas gestões – deve ser reativada e entregue à população. Porque esse espaço de pertencimento, re-encontros e trocas de afetos precisa voltar a ter a relevância que teve no passado. Precisa voltar a ser o porto seguro da memória, da cultura e da arte itanheenses.
Com uma base de apoio local, estadual e federal, o prefeito Bemtivi poderá realizar muito por Itanhém. No mínimo, poderá repetir o que fez no passado. Com boa vontade, poderá desenvolver boas ideias e projetos em todas as áreas da municipalidade. Com dedicação, aliada à competência, poderá realizar ações estruturantes, decisivas e marcantes. Apoio não há de lhe faltar nas esferas estadual, com o governador Jerônimo Rodrigues, e federal, via presidente Luiz Inácio Lula.
O certo é que Bemtivi voltará ao comando do município, a partir de 1º de janeiro, em circunstâncias muito especiais. Primeiro, apoiado pela maioria da população e, depois, no ano em que Itanhém celebra seu centenário de fundação. E aqui outro nome da velha guarda precisa ser lembrado com carinho – Simplício Binas. Trata-se do desbravador mineiro que deu o pontapé inicial para a fundação da Vila de Água Preta, doando uma faixa de terra em 1925.
E Bemtivi, na qualidade de protagonista da política itanheense neste terceiro milênio, se apresenta bem-intencionado e preparado para fazer frente às demandas de sua gente e, também, para liderar o Jubileu de 100 anos da fundação da Nação Bahianeira.