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Pastores profanam Evangelho ao confundirem púlpito com palanque eleitoral

por Elias Botelho | em 29/10/2022

Pastores profanam Evangelho ao confundirem púlpito com palanque eleitoral

A corrida eleitoral à presidência da República chega ao seu  final, mais uma vez vai deixar sequelas  em muitas instituições sociais. A grande maioria da mídia, ao contrário de 2014 e 2018, entendeu agora que a agenda “corrupção zero’ é quase utópica. De outra parte, os princípios morais tão decantados por grupos conservadores-extremados são a nova ordem de sustentação de poder. Noutra ponta, os evangélicos estão tentando marcar posição de uma vez por todas no poder estatal, sem um certo equilíbrio, alguns líderes evangélicos vão além e  mostram a outra face  da moeda.

Assim como nas últimas duas disputas eleitorais presidenciais, o denuncismo, satanização de candidaturas e a interferência religiosa no processo eleitoral continuam ardendo. E nesses dias que antecedem o final dessa turbulenta campanha, surgiram  fatos que demonstram como a fé das pessoas serve  para sustentar vaidades de homens que se intitulam pregadores de Deus. São pastores com feições de boa reputação que usam seus púlpitos para falar não só de Deus, mas de si mesmos e de recalques oriundos, talvez,  de frustrações. 

Ao que parece, muitos pastores, principalmente, os líderes de igreja com domínio sobre algum tipo mídia, vêm desde muito usando o povo evangélico como capital político e convenceram uma parcela enorme a seguir seus projetos de poder. Em pesquisa recentemente da Data Folha, mostra, “graças a Deus'”, uma diminuição considerável dos evangélicos optando pelo candidato tão demonizado implacavelmente por tais reverendos. 

O apoio massivo dos pastores ao candidato e atual presidente deve-se ao fato das promessas feitas por este à ideologia de gênero. Podemos citar como exemplo a pastora e ex-ministra Damares com sua célebre frase: “menino veste azul, menina veste rosa”. De modo que, todo aparato governamental, incluindo a família palaciana, corrobora com a difusão dos ideais de boa parte de pastores de várias denominações. No purismo pastoral, aquele que não for heterossexual, está condenado ao inferno. Aí me valho das palavras do respeitado pastor Caio Fábio quando disse num podcast: “Muitos desses pastores que são gays ficam prometendo ‘cura gay’”.

Além das pautas de costumes, resolveram ampliar seus “falsos poderes“ com nomeações de ministros para o STF. E mais que isso tentam eleger uma bancada numerosa no Congresso, capaz de dobrar de joelhos qualquer presidente eleito. Com isso, fica claro nas atitudes e na percepção de especialistas, o domínio do país pela fé. Podemos então dizer que o que vislumbram é a teocracia. 

Os mesmos líderes evangélicos que tanto lutaram para um Estado laico, agora, querem ao que tudo indica tornar o Brasil um Irã evangélico, e o Silas Malafaia, numa espécie de “Aiatolá de alguma coisa” como aponta Caio Fábio no mesmo podcast. E isso parece óbvio quando vemos representantes desse movimento pastoral, a exemplo do próprio Silas Malafaia, exercendo um podre poder sobre o presidente da República. E como lembra mais uma vez o Caio: “Esse povo não gosta de democracia; é teocracia mesmo”.

Posso enumerar centenas de discursos políticos nas igrejas com aparência de culto nos quais pastores sem o menor pudor, em detrimento da verdade, lançam aos ouvidos dos fiéis, estes, ávidos por salvações, absurdos que até o ilustre escritor Franz Kafka, vivo fosse, ficaria de cabelo em pé. Assisti ao vídeo de uma missionária muito astuta  chamando os fiéis para uma reflexão falaciosa. Questiona aos seus irmãos por que oram para o “filho de irmã Maria” sair das drogas, mas quer votar num candidato que é a favor das drogas? – são contra o aborto, mas votam num candidato que é a favor do aborto. A citação é apenas ilustrar de como os púlpitos das igrejas são usados para difamar pessoas que os pastores chamam de esquerdistas.

Enfim, assistimos a tudo isso apenas indignados com o desvirtuamento dos ensinamentos de Cristo, que parecem tão distantes dos púlpitos. Repito.  Bom para quem? Para os que profanam o Evangelho? Para o Estado de libertinos ou para os ímpios?

 

Elias Botelho é advogado, escritor e ocupa a Cadeira 33 da Academia Teixeirense de Letras (ATL). 

 

 

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